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A divulgação das classificações alcançadas no Sistema de Seleção Unificada (Sisu) pelos alunos que prestaram o Enem no final de 2016 trouxe surpresa e alegria para o jovem Cainã Figueiredo. Ele, que vive no bairro de Ramos, Zona Norte do Rio de Janeiro, foi aprovado em primeiro lugar entre os candidados cotistas do curso de Ciência da Computação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Além disso, ele também ficou em quarto lugar em Engenharia da Computação na mesma instituição. “Eu tinha medo de não ser aprovado devido à concorrência. No entanto, graças a Deus e à ajuda do ‘cursinho’, consegui assimilar muitas matérias que tinha dificuldade e atingir uma nota satisfatória no Enem”, assegura.

O “cursinho” ao qual Cainã se refere é uma iniciativa voluntária de jovens da Igreja Adventista do Sétimo Dia do bairro Olaria, também na Zona Norte do Rio. Eles criaram o chamado “Curso Preparatório Comunitário”, que consistiu em aulas intensivas, três vezes por semana, totalmente gratuitas para os jovens que iriam prestar o exame. Os estudos acontecem na própria igreja e são abertos a todas as pessoas interessadas em fomentar seus conhecimentos.

Nesta semana, o resultado da iniciativa virou notícia num dos veículos de comunicação impressa de maior circulação do Rio de Janeiro. O jornal O Globo publicou uma matéria destacando aprovação de Cainã nas primeiras colocações dos dois cursos da UFRJ, e contando sobre o curso preparatório organizado pelos jovens adventistas. Além disso, o jornal também mostrou o apoio que o curso tem recebido de professores e estudantes universitários.

Uma iniciativa que deu certo

A iniciativa surgiu na mente do microempresário adventista Victor Ibraim. Ele se viu preocupado com os jovens do bairro que iriam prestar o Enem, mas que não tinham condições financeiras para pagar um curso preparatório. “Eu queria fazer alguma coisa que mostrasse para as pessoas que a igreja e Deus se preocupam com as necessidades delas, e ao mesmo tempo, oferecer um auxílio para uma das fases mais decisivas da vida delas. Então tivemos a ideia de oferecer aulas totalmente gratuitas para os jovens”, explica. Ele também ressalta que o projeto, apesar de inovador, teve um início tímido. “Nós não tínhamos recursos para a divulgação do curso. Portanto, nossa propaganda era no boca a boca. Durante os cultos, nós incentivávamos os jovens a falarem para os seus amigos de escola que a igreja oferecia um auxílio acadêmico”, conta Ibraim.

As aulas começaram com apenas 20 alunos. Em poucas semanas, esse número cresceu, e estudantes de inúmeras denominações vieram à igreja adventista para estudar álgebra, química orgânica, antropologia e outras disciplinas. Segundo Ibraim, as reuniões são feitas nas segundas, terças e quintas-feiras, dias em que não costuma haver cultos. “Assim, nossa igreja praticamente passou a ficar aberta todos os dias para a comunidade”, constata.

Cainã era um dos frequentadores assíduos do pré-vestibular comunitário. “O preparatório me ajudou a intensificar ainda mais minha rotina de estudos. Aqui na igreja nós tivemos simulados e exercícios comentados sobre assuntos que mais costumavam cair no Enem. Eu tinha bastante dificuldade em química, mas o curso me ajudou muito a superar”, aponta. Ele também conta que as aulas na igreja também trouxeram algo que vai além do conhecimento acadêmico. “Aqui eu pude perceber o quão importante é ajudar os outros, pois nenhum dos professores cobrou para dar aula. Era tudo voluntário. Além disso, pude conviver com pessoas que estavam na mesma fase que eu”, acrescenta. Questionado sobre o maior aprendizado que irá levar para a universidade, Cainã destaca o espírito de desprendimento, dedicação e amor cristão dos professores durante as aulas. “Eu pretendo, de alguma forma, me dedicar assim dentro da UFRJ. Quero mostrar para os meus futuros colegas os mesmos valores adquiridos aqui”, afirma confiantemente. [Equipe ASN, Douglas Pessoa]